quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Contradições


Não pretendia escrever sobre a palestra de ontem (21 de outubro) da Semana Acadêmica do jornalismo do Bom Jesus/Ielusc. Mas o que ouvi lá me instigou. De cara já digo que não gosto de ouvir sociólogos, filósofos, engenheiros, médicos e tudo o mais em eventos direcionados a jornalistas nas faculdades. Os presentes são, na grande maioria, estudantes de jornalismo, e querem falar da profissão, do fazer jornalístico, etc. E me desculpem os sociólogos e os engenheiros, mas falar tecnicamente de jornalismo tem que saber fazer jornalismo. Foi o que aconteceu ontem na palestra do sociólogo Silvio Caccia Bava, editor do Le Monde Diplomatique no Brasil. Choveram perguntas sobre jornalismo, área que ele, naturalmente, não dominava – desconhecia até a expressão “verbos dicendi”. Algumas ele até tentou responder. Outras, ignorou. Mas o que me deixou cabreiro foi sua opinião sobre nossa profissão. Ele se colocou contra a necessidade de formação específica para exercer o jornalismo. Disse que qualquer profissional, de outra área, pode fazer jornalismo. Bava acha que não tem mistério execer o jornalismo, qualquer um pode fazê-lo, inclusive ele, que edita o Le Monde Diplomatique e garantiu já dominar “as técnicas” jornalísticas. E mais: disse que o Diplomatique não contrata jornalistas – não especificou quantos tem lá, mas disse que são poucos – porque prefere contratar especialistas nos assuntos dos temas debatidos. “Não nos falta dinheiro. Não contratamos jornalistas porque não queremos”, enfatizou. Nada demais, até aí. Afinal, os textos do Diplomatique estão longe de serem jornalísticos. Mas dizer que não é preciso se formar em jornalismo para exercer a profissão foi demais. E os argumentos apresentados foram os mesmos do Gilmar Mendes, dos Mesquitas, dos Frias, dos Sirotsky. Isto é, de um lado se critica a monopolização da mídia por poucas famílias e, do outro, se alinha na mesma toada empresarial para espinafrar com o diploma e a necessidade de formação para o jornalista! Quanta contradição. Aliás, a contradição foi a tônica da fala do sociólgo ontem.

Obs: na palestra do outro dia descobrimos que o Le Monde Diplomatique utiliza duas estagiárias da PUC de São Paulo para EDITAR o jornal. O próprio professor delas, o jornalista Hamilton Octavio de Souza, da Caros Amigos, revelou em sua palestra. Pelo jeito, devem ser das raras "jornalistas" que povoam a redação do Le Monde Diplomatique do Brasil.

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